Retomo o assunto do BRT de Belém, sobre o qual falei antes, no postsobre o Ação Metrópole. O que o motiva é, simplesmente, um comentário de uma
tia, que, vivendo hoje em Curitiba, e em férias em Belém, observou, enquanto
passávamos pela Almirante Barroso, que há um grande problema com o BRT de
Belém: o fato de ele ser, simplesmente, um linhão, sem linhas de integração de
fato, que cortem a cidade em outras direções.
Foi apenas a observação de uma usuária do BRT mais conhecido do
mundo, não de uma especialista. Fiquei pensando se procede. De fato, afinal, o
BRT de Belém tem um perfil troncal, sem linhas radiais ou circulares. Em que
medida isso pode constituir um problema para um sistema desse gênero?
Bom, antes vejamos melhor como é o BRT de Curitiba. O gráfico abaixo
sintetiza sua estrutura geral:
É claro que a expansão urbana de Curitiba se dá num formato radial, ao contrário de Belém, mas o que interessa, de fato, não é o formato, e sim as características desses sistema, as quais seriam:
- Ampla acessibilidade com o pagamento de uma única tarifa;
- Prioridade do transporte coletivo sobre o individual;
- Caracterização tronco/alimentador;
- Terminais de integração fechados;
- 81Km de canaletas, vias ou faixas exclusivas, caracterizando corredores de transporte;
- Terminais fora dos eixos principais, que ampliam a integração.
- Abrangência Metropolitana.
Nenhuma dessas características estará presente no BRT de Belém. Em
primeiro lugar porque o projeto tem visão restrita: é estritamente municipal,
não se articula dentro de um programa mais amplo, que pense conjuntamente todos
os municípios da região metropolitana – enquanto que a população desses
municípios será usuária quotidiana do sistema de transporte instalado.
Em segundo lugar porque, até o momento, ninguém informou como se
dará a alimentação/integração do tronco, pelas linhas que o cortam.
A imagem abaixo mostra a extensão do sistema BRT de Curitiba:
Outro ponto a considerar, e que compreendo ser o problema real da
observação feita pela minha tia, é que o sistema de BRT de Curitiba é pensado
de modo integrado com as diferentes demandas de transporte da cidade, e não
como uma via troncal única. O BRT de Belém é concebido como uma via única que,
pelo volume de sua demanda e pela alta concentração de empresas de transporte,
que continuarão a atuar sem qualquer racionalização (critica que já fiz no
posta anterior referido), com suas múltiplas e desnecessárias linhas, irão
sobrecarregar essa via única, ampliando o caos em que já se vive, porque não
oferece condições de diminuição da sobrecarga.
Como funciona em Curitiba? O conceito é o seguinte: o sistema é
sempre pensado como duas vias:
- Via Central: Canaleta central exclusiva para a circulação das linhas expressas (transporte de massa) e duas vias lentas para acesso às atividades lindeiras. A via exclusiva confere ganhos significativos para a velocidade operacional das linhas expressas.
- Vias Estruturais: Duas vias paralelas à via central com sentido único, situadas a uma quadra de distância do eixo, destinadas às ligações centro-bairro e bairro-centro, para a circulação dos veículos privados.
Em Belém teremos apenas a via central.
Bom, é claro que se dirá algo como: é o começo, depois haverá uma
expansão, nem em Curitiba se fez tudo de uma só vez...
E isso é verdade. Porém, em Curitiba, o sistema surge de um
planejamento cuidadoso, dotado de um cronograma de expansão eficiente.
Em Belém não se tem nada disso. Não se pensou no futuro, nem em
expansão. Não se tem conceito.
Tem-se a eterna incompetência do prefeito Duciomar e de sua equipe
de nulos.
Corredores de Transporte
E por falar em conceito, vamos entender melhor qual é o verdadeiro
conceito de um BRT. É o de ser um corredor de transporte – e não, exatamente,
uma via.
Por corredor de transporte se deve entender o eixo estrutural de
desenvolvimento urbano, com as seguintes características:
- Ordenam o crescimento linear do centro;
- Caracterizam as maiores densidades demográficas;
- Priorizam a instalação de equipamentos urbanos;
- Concentram a infra-estrutura urbana;
- Definem uma paisagem urbana própria;
- Traduzem os mecanismos do planejamento integrado do uso do solo;
- Ordenam o sistema viário e o transporte coletivo;
Ou seja, por meio do planejamento do transporte público integrado se
consegue racionalizar a própria vida urbana, gerando qualidade de vida para
todos.
Um prova disso: Em 1974, 92% dos usuários da rede de ônibus local se
deslocavam, cotidianamente, até a região central de Curitiba. Já em 2003, em
função da estruturação dos corredores de transporte, apenas 30% dos usuários
tem como destino o centro da cidade.
Na foto abaixo dá para entender melhor essa filosofia: em vermelho e
em verde tem-se a via central. Em azul, as vias estruturais. É o seu conjunto
que produz o efeito racionalizador urbano:
Mais um ponto a considerar, que se apresenta como fundamental na
estruturação do sistema de Curitiba, são os “terminais de integração” –
estações que permitem a integração entre as diversas linhas que formam a Rede
Integrada de Transporte (expressas, alimentadoras, linhas diretas e
interbairros).
Ok, a publicidade de Duciomar informa que o BRT de Belém terá também
esses terminais de integração. Mas estou convencido de que a turma desse
prefeito infeliz não tem ideia do que é isso, de fato.
A questão é: o que será integrado? Em Belém, o máximo de integração
que haverá é com as outras linhas de ônibus, todas elas de grande extensão e
quase todas elas, em algum momento de seu trajeto, passando pelo mesmo corredor
urbano que constitui o tronco do BRT.
Em Curitiba o BRT integra linhas alimentadoras mais curtas, com
melhor atendimento aos bairros, ampliando o número de viagens a partir da
diminuição do tempo de percurso.
Por lá, os terminais promovem ainda a estruturação dos bairros,
concentrando atividades diversas no seu entorno.
A imagem abaixo mostra a estrutura de uma dessas estações de
integração:
Por fim, é interessante ver como o sistema de Curitiba possui toda uma coerência: não se trata de pensar somente o BRT troncal, tudo está integrado e a população identifica os componentes do sistema por meio das cores dos veículos, também reproduzidas nas indicações de direção. A imagem seguinte mostra a composição da frota da região metropolitana de Curitiba. Nela, podem-se ver os vários tipos de veículos, com sua capacidade de passageiros. Percebe-se como a coerência a racionalidade fazem toda a diferença. O expresso troncal principal, por exemplo, tem apenas 2 linhas. Em Belém haverá 30, 35 linhas, sem nenhuma coerência.
Pior, as linhas troncais farão o papel, também, de linhas
alimentadoras, complicando ainda mais a situação.
O quadro seguinte mostra a composição da frota do sistema de
Curitiba:
Gestão e Operação do
Sistema
Como funciona o sistema de Curitiba? Em síntese, uma lei, de 2008,
criou uma empresa pública, a URBS - Urbanização de Curitiba S.A., a quem
compete a regulação, o gerenciamento, a operação, o planejamento e a
fiscalização do chamado “Sistema de Transporte Coletivo de Passageiros do
Município de Curitiba” e de sua região metropolitana.
Essa empresa não possui veículos. Ela contrata outras empresas que
vão efetivar o serviço, apenas gerenciando todo o processo. Sua funções, em
síntese, são:
- Contratar as empresas operadoras;
- Definir itinerários, pontos de paradas e horários;
- Determinar tipos e características dos veículos;
- Vistoriar a frota e fiscalizar os serviços;
- Definir o custo por quilômetro e propor tarifa;
- Controlar a quilometragem rodada e passageiros;
- Gerenciar a receita e remunerar as empresas por quilômetro rodado.
A operação do sistema é executada por empresas privadas, através de concessão.
A estas empresas compete:
- Adquirir a frota de ônibus de acordo com as determinações da URBS
- Contratar e remunerar pessoal de operação (motoristas, cobradores, etc);
- Manutenção e limpeza dos veículos
- Executar as ordens de serviços encaminhadas pela URBS;
- Arrecadar a tarifa
- Repassar a arrecadação à URBS .
A relação das Empresas Operadoras do Sistema de Transporte Coletivo de Curitiba
pode ser consultada através do link http://www.empresasdeonibus.com.br/empresas.php
Para concluir, ainda uma informação importante: O sistema de Curitiba desenvolveu mecanismos de racionalização baseados na ideia de agilidade que podem render boas lições a Belém e a outras cidades. Exemplo disso é a tela mostrada na imagem abaixo, à disposição do condutor do veículo e que, por um simples toque, transmite instantaneamente a informação sobre situações de emergência, que podem ocorrer, à central de operações:
Para concluir, ainda uma informação importante: O sistema de Curitiba desenvolveu mecanismos de racionalização baseados na ideia de agilidade que podem render boas lições a Belém e a outras cidades. Exemplo disso é a tela mostrada na imagem abaixo, à disposição do condutor do veículo e que, por um simples toque, transmite instantaneamente a informação sobre situações de emergência, que podem ocorrer, à central de operações:
Também mostro uma fotografia da central de operações do BRT de Curitiba. Para mostrar como é importante a tarefa de gerenciamento do sistema:
Como é a tarifa?
A tarifa cobrada dos usuários do transporte coletivo constitui
arrecadação pública, sendo recolhida pelas empresas operadoras e gerenciada
pela URBS.
O Poder Executivo fixa a tarifa com base na planilha de custos do sistema, precedida de proposta da URBS.
O Poder Executivo fixa a tarifa com base na planilha de custos do sistema, precedida de proposta da URBS.
Para quem se interessar em entender melhor, recomendo os seguintes
links:
- Composição da Tarifa: http://www.urbs.curitiba.pr.gov.br/P...11_01_2009.pdf
- Preço dos insumos: http://www.urbs.curitiba.pr.gov.br/P...os_insumos.pdf
- Metodologia utilizada para a composição da tarifa: http://www.urbs.curitiba.pr.gov.br/P..._2009_site.pdf
- Evolução da Tarifa: http://www.urbs.curitiba.pr.gov.br/P...evolucaotarifa
Como é o pagamento das passagens?
Pode ser por dinheiro ou por meio de um cartão magnético, o que
agiliza bastante a movimentação do sistema.
Em 2010, a URBS ativou 1.454,128 cartões transporte. 44% das passagens da RIT são pagas com o cartão. Há mais de 20 mil empresas cadastradas na URBS para a utilização do cartão transporte por seus funcionários. Deste total de empresas, cerca de 8 mil adquirem créditos de vale transporte por meio do portal da Prefeitura na Internet.
Em 2010, a URBS ativou 1.454,128 cartões transporte. 44% das passagens da RIT são pagas com o cartão. Há mais de 20 mil empresas cadastradas na URBS para a utilização do cartão transporte por seus funcionários. Deste total de empresas, cerca de 8 mil adquirem créditos de vale transporte por meio do portal da Prefeitura na Internet.
Os números do BRT de Curitiba
- 2.365.000 PASSAGEIROS TRANSPORTADOS DIARIAMENTE
- 1915 ÔNIBUS
- 355 LINHAS
- 364 ESTAÇÕES TUBO
- 30 TERMINAIS DE INTEGRAÇÃO
- 6 CORREDORES DE TRANSPORTE
- INTEGRAÇÃO COM 13 MUNICÍCIOS DA REGIÃO METROPOLITANA